sábado, 28 de fevereiro de 2009

Maybe

Quando estive em intercâmbio na Faculdade de Comunicação da Universidade de Santiago de Compostela, peguei essa disciplina, Expressão Sonora & Estilos Musicais. Nossos trabalhos consistiam em fazer videoclipes. A idéia de uma coreografia para Maybe, canção imortalizada pela voz poderosa de Janis Joplin, foi de Triana, que também é dançarina. Deixo que ela explique o porquê da escolha:

Con respecto a Maybe puedo decirte que es una coreografía que hace tiempo tenía ganas de hacer porque se basa principalmente en tratar de transcribir con el cuerpo la poesía de la canción. Es una especie de experimento que antes no me había atrevido a investigar pero que siempre me dió vueltas en la cabeza... Trata de transmitir ese "quizás" de los sueños, de la espera, de la búsqueda... Todos tenemos nuestros quizás, nuestros Maybe... y la danza, en mi opinión, es una de las herramientas más hermosas para transmitir esa sensación.

As gravações foram feitas no Teatro Principal.

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coreografia - triana doce e paula
vídeo - iria ares, lois blanco, triana doce, ana escrigas, breno fernandes, ismael freire, alicia galiña, sergio gonzález, mario lugilde, pablo jiménez, sabela sampedro e beatriz vilariño

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Perifton


A casa era luxuosa, dez enormes quartos e um jardim que dava para criar gado. Era algo comum na vizinhança, lugar conhecido pelas mansões. A mulher deitada na mesma cama é uma desconhecida de muitos anos de casamento. Era uma mimadinha vagabunda, de belas curvas, devo dizer, interessada em aventuras que seu dinheiro não podia comprar. Eu queria sexo e filhos, ela queria chocar o que sobrou da família. Marta era herdeira de uma fortuna amaldiçoada, seus pais e boa parte da família havia morrido de causas atípicas. Contava algumas destas causas rindo do azar dos seus parentes distantes, histórias que ela ouvia da mãe quando era menina.

Depois de alguns anos de casamento, ela se escondia pelos cantos da casa, evitando a verdade: Marta era estéril e resolveu nunca me contar, pois sabia que não me casaria com uma mulher que não pudesse me dar filhos, eu achava que, de alguma maneira, um filho mudaria a minha vida, eu teria realmente um objetivo digno para me dedicar. Quantas pessoas sobrevivem todos os dias sem um ideal? Mas, ao que parece, não estava no meu destino.

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texto - danilo rohrs

Perifton


1

Todo dia tentando sair dessa rotina infernal, acordo, como, trabalho. Tenso, corro de um lado para o outro sem saber o que estou à procura. É como o instante após levar uma pancada daquelas na cabeça. Alguns comprimidos e um cowboy duplo, como rege a lenda, um bom e velho Jack Daniel’s deve ser tomado na sua essência.

À noite finalmente me sinto vivo de verdade, a noite é o meu déjà vu preferido, o clima de expectativa no ar, presente na fumaça de um cigarro ou no mistério por trás de olhos maquiados, escuros e lábios carnudos coloridos.

As drogas, como tudo que nos aproxima da morte, me preenchem de vida, bela contradição; com certeza nada comparado ao sexo, puro e simples, não só me sinto vivo nesse momento mas assistido pelos deuses. Além disso, preferia muito mais o desafio de viver a realidade com sobriedade. Com o tempo meu egoísmo se transformou em filosofia de vida. Não que exista outro objetivo além de sobreviver e cumprir minha rotina diária, às vezes pensava nisso depois do quarto orgasmo, deitado na cama ao lado de qualquer vagabunda sem valor. Mas, naquele dia, 5 de novembro, pensei que sobreviver talvez fosse uma opção minha, estava na hora de mudar. 5 de novembro: o marco zero, o início de uma nova vida e o fim de toda essa agonia.

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texto - danilo rohrs
ilustração - danilo rohrs

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Acróstico para Mayana

Um acróstico é um poema cuja leitura da primeira letra de cada verso forma um nome ou uma frase. É das formas mais interessantes, a meu ver: captar o ritmo poético que seu nome carrega é também um modo de buscar entender melhor alguém.


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texto - breno fernandes
leitura - breno fernandes
música - joão vinícius (violão) e rafael campelo (gaita)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Orgânico

Não é uma canção de amor.

Não é uma canção de ninar.

Orgânico seria uma engrenagem harmônica de atmosferas suaves e delicadas, a música se propõe a despertar sensações de bem estar, talvez um pouco de nostalgia. Instrumental simples, com base no violão, uma guitarra fazendo pequenos encrementos, teclado e voz completando a harmonia base.





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música - joão vinícius
imagem - emile théodore frandsen de schomberg [La fille au bouquet, reproduzida na capa do disco da banda Derek & The Dominoes]

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A morte segundo a vida

Certa feita, após um flerte mal sucedido num bar, que resultou em um banho de suco de abacaxi, um amigo enveredou por assuntos de cunho profundamente existencial e, de repente, me veio com uma:

DEUS É UMA PERGUNTA SEM RESPOSTA.

Talvez bêbado e certamente extasiado, guardei naquele instante a maldita frase e matutei sobre isso por todo o fim de semana que se seguiu, ainda com o aroma do abacaxi -- mesmo com todos os banhos que havia tomado -- me encardindo o corpo.

Dois anos após o sucedido, um outro amigo me mostrou uma harpa de brinquedo que sua mãe acabara de lhe comprar, achei sensacional, eu tinha uma SOL SHOT na mão e várias idéias me tomaram a cabeça com aquele instrumento; pedi-o emprestado, ele não me emprestou. Dias depois, desmorona seu armário e a harpa se quebra; ele liga pra mim oferecendo-a, eu aceito.

Conclusão: Existem coisas na vida que realmente estão predestinadas, de um banho de suco até uma harpa quebrada.


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texto - joão vinícius
leitura - joão vinícius
música - joão vinícius

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A dor de Mari

Tudo que eu pensava a respeito deste poema foi desconstruído quando Mari apareceu, repentinamente, e o recitou. Assim, façam as perguntas a ela. Eu não tenho nada mais a ver com esta dor.


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texto - breno fernandes
leitura - marianna bittencourt
música - breno fernandes (escaleta), gabriel camões (violão), gabriel pardal (teclado), joão vinícius (baixo elétrico e vocal de apoio), marianna bittencourt (brincos)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

À pequena bailarina

Não me lembro sobre qual das grandes figuras da música erudita conta-se a história de que, certa feita, após apresentar a um pequeno público uma nova peça, ouviu de uma senhora:

-- Bravo, Maestro! Mas o que senhor quis dizer com esta obra?

-- O que eu quis dizer?! -- engasgou-se ele; em seguida, pôs-se a tocar a música de novo, até o fim. -- Eu quis dizer isso!

Inspirado pelo Maestro desconhecido, eu soube finalmente o que te oferecer, Pequena Bailarina.



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texto - breno fernandes
leitura - breno fernandes
música - joão vinícius

Autossugestão

Numa referência ao descontrole da comunicação, onde não se identificar pode ser usado de uma forma responsável ou não, a depender de quem a utiliza, como o autor indigente lida com a sua obra são impressões desse fragmento.



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texto - rafael campêlo
leitura - joão vinícius e rafael campelo

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Scar



De repente, o microfone se encaixou entre as cordas do violão, a guitarra emitiu um ruído interessante e tudo foi escarrado neste experimento atmosférico bem simples, que, atrelado a esta imagem que capturei e manipulei, pode ou não ser um bom reflexo do paisagem que a gravação tenta inspirar.



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música - joão vinícius
foto e manipulação - joão vinícius

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O seu corpo

Um despir-se, o escancarar da mulher amada em função de uma linha de baixo.
Um poema de amor, romantismo cru e nu.
Paixão, fervor, intensidade.
Desejo à flor da pele: pulsante.
Ternura e sexo descritos no trajeto do prazer, sobre o corpo de uma mulher.




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texto - joão vinícius e gabriel camões
foto - mariele góes
leitura - joão vinícius
música - joão vinícius

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Não-Lugar

Lembro que quando ouvi pela primeira vez a expressão "Não-Lugar", não sabia quem a tinha criado e tinha apenas uma vaga idéia em relação ao que ela se referia. Mas gostava de como ela soava ao ser dita. Fui buscar respostas mais elucidativas sobre o conceito no nosso oráculo moderno (O Google) e descobri o Marc Augé, antopólogo francês que escreveu "Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade". Aproveito a oportunidade para indicar a leitura a todos que sofrem de "inquietude aguda".

Nestes não-lugares, mesmo estando só, não há escolha: Você estará junto a outros, desconhecidos, compartilhando de um instantâneo e estranho sentimento de pertencimento, seja estando num aeroporto alemão, num supermercado americano ou num shopping japonês. Ali você construirá uma relação contratual que legitimará ou não sua permissão para ir e vir, através do que o Marc Augé chamaria de "símbolos da supermodernidade"; que seriam os cartões de crédito, os talões de cheque, passaportes, enfim, elementos que permitem seu acesso, comprovam sua identidade e o autorizam a fazer seus deslocamentos impessoais... Mas desde que você esteja bem-apessoado.



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texto -
gabriel camões
leitura - gabriel camões
música - joão vinícius

Carta para Driu

Eu conheci Driu em uma viagem que fizemos em grupo ao deserto do Saara. Já havíamos nos falado antes, mas a primeira vez na qual conversamos foi no voo que nos levaria até Marraquexe. Para impressioná-la, lancei mão dos meus parcos conhecimentos de astrologia. Eu taurino, ela libriana. Não sabia nada sobre o signo de libra. Ainda não o sei. Nada aconteceu entre nós, não me senti apaixonado. Cativado apenas. Pouco depois, escrevi-lhe esta carta.

Hoje, encontro-a com alguma frequência, mas nos falamos pouco. Oi. Ei, você. Vivemos vidas bem diferentes. Não sei qual é seu ascendente, o meu é capricórnio.


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texto - breno fernandes
leitura - gabriel camões
música - joão vinícius