quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Memória


O recordo ten o que a dor chama fotografías sen sentido, pero que viven dentro de nós. É como si o recordo falase dunha historia que non coñece, pero si sentiu como súa. A capacidade das persoas para ser outros ata sen querer...



[ficha técnica]

texto, voz e imagem - lois blanco
música - breno fernandes e joão vinícius

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Bússolas apontam para o Norte



o poema tem que jorrar da alma e rasgar o peito e o que fica à mostra eu exponho controversa, vermelho escarlatizando cálidos versos... e ofereço a saudade em flor quando ofertada nos beijos que não te dou.


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texto - sheyla de castilho
leitura - gabriel camões
música - joão vinícius

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Inveja

Tenho inveja de pedra, de árvore, de água.
Não porque não morrem, que a morte é o sentido da vida.
Não porque não deixam a manhã perdida, sucumbindo na televisão.
Não porque parecem não se incomodar com o que sem saber acontece de acontecer, porque o imprevisto é o presente.
Não porque montanhas, rios, jaqueiras, são maiores que os homens. Gigantes não acampam em cavernas, não mergulham em cachoeiras nem dormem debaixo da sombra.
Tenho inveja de pedra, de árvore, de água porque elas não se fazem de otárias.



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texto, leitura e música - gabe pardal

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

La Chanson du Soleil

Amor expressionista -- há quem não resista
o eu-lírico feminino sob uma óptica machista
Nosferatu me desculpe, mas eu sou mais realista.



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letra, voz e música - joão vinícius
edição - joão vinícius
fala introdutória - breno fernandes
imagens -
nosferatu [1922, f. w. murnau]

domingo, 9 de agosto de 2009

La Culture Émotionnelle

Não sei bem o que dizer sobre isso... Talvez seja mais uma tola e naive canção de amor. Mas talvez seja um retrato dos desentendimentos entre duas pessoas que um dia se amaram e, depois, tornaram-se simplesmente habituadas uma a outra. Os caminhos se separam, as direções olhadas são distintas, e aí chega o ponto que nenhum dos dois fala mais a mesma língua.


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letra - marccela vegah
voz - marccela vegah e joão vinícius
música - joão vinícius, com improvisação de saulo dourado [chocalho]

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Soneto da Encruzilhada



Em seu antigo blog, o escritor Daniel Galera escreveu, a respeito do contexto de criação de Até o dia em que o cão morreu, que chamava a sua atenção "um fenômeno de certa apatia entre as pessoas da minha idade e minha classe social, um excesso de possibilidades que desnorteava as pessoas, tornava tudo no mundo equivalente, e portanto igualmente desinteressante."

Eu percebo algo similar em muitas pessoas da minha idade e minha classe social, eu inclusive. Sonhamos em fazer um pouco de tudo na vida, mas, sem saber por onde começar — ou ter ânimo para começar –, às vezes optamos por continuar sentados na mesa do bar, sonhando. Nos dá pavor a ideia de escolher um caminho e gastar a carta da escolha.

Estamos parados na encruzilhada das possibilidades infinitas.

versão 1


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versão 2

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texto - breno fernandes
leitura - álvaro andrade [versão 1] e pareta calderash [versão 2]
ilustração - álvaro andrade
música - cebola pessoa

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Die Verwandlung (excerto)

Há tempos, eu (Breno) levei para um de nossos encontros uma canção do Mestre Monclar Valverde cuja letra era o início de A Metamorfose, de Franz Kafka, em francês. É uma música belíssima: para além da cadência do texto -- não lembro quem foi o tradutor, perdoem, só me recordo do fato de que era poeta -- para além da cadência do texto, a melodia cria uma atmosfera que transita entre luz e sombra, como a própria obra do Kafka.

Kafka é um de meus autores favoritos, uma referência tanto literária quanto filosófica. Quando, então, descobri que Vegah falava alemão, não pude deixar de pedir-lhe que me lesse o princípio de A Metamorfose no original. (Kafka, apesar de ser checo, escrevia em alemão. Se você tem uma ideia incrível...)

Queria escutar a sonoridade, a força das palavras que ele escolheu. Como João também estava seduzido pela desafio de tentar criar sua própria leitura da atmosfera da obra (e acho que ele conseguiu bastante bem), resolvemos gravá-la, e aí está. Um singelo presente àqueles que, como nós, admiram este autor.

Vou aproveitar a deixa para falar ainda da nossa produção em outras línguas. No último encontro, Saulo e eu conversávamos sobre isto. Para não mencionar o fato de um dos nossos barulhentos (Lois) ser galego, o que pontuei naquele momento foi que, de certa forma, pode ser mais fácil escrever em outra língua, porque, com nosso vocabulário restrito, acabamos por aceitar aquela única palavra que sabemos para representar algo. A nossa língua-mãe, ao invés, se nos apresenta um amplo leque de opções, nos deixa escolhas -- e todos que escrevem sabem a tarefa árdua que pode ser escolher entre um mas e um porém.

Para estender meu argumento, cito Borges, um texto fruto de uma conferência, intitulado Pensamento e Poesia, que me foi apresentado pelo próprio Monclar. A tese sustentada por Borges aí é a de que a ideia válida para a música, sobre a impossibilidade de cindir a forma da substância, também o é para a poesia.

Em seus estudos histórico-linguísticos, Borges nos mostra que as palavras não começaram abstratas (no sentido de convencionadas), mas concretas, com um forte significado, envoltas em mágica -- “acredito que, nesse caso, 'concretas' signifique quase o mesmo que 'poéticas'”, escreve ele. Para deixar cá um exemplo, vale transcrever sua análise da palavra “noite”:

“...podemos presumir que, de início, ela representava a própria noite – sua escuridão, suas ameaças, as estrelas cintilantes. Então, depois de tanto tempo, passamos ao sentido abstrato da palavra 'noite' – o período entre o crepúsculo do corvo [...] e o crepúsculo da pomba, o princípio do dia.”

Com todas as nossas limitações, nós gostamos de pensar que buscamos essa concretude mágica das palavras. Em todas as línguas com as quais nos relacionamos.

That's all, folks.




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texto - franz kafka [a metamorfose, no original]
leitura - marccela vegah
música - joão vinícius